Crenças e Negações
A Índia
Dissemos que a doutrina
secreta achava-se no fundo de todas as religiões e nos livros sagrados de todos
os povos. De onde veio ela? Qual a sua origem? Quais os homens que a conceberam
e fizeram depois a sua descrição? As mais antigas escrituras são as que
resplandecem nos céus.[i]Esses mundos estelares que,
através das noites calmas, deixam cair serenas claridades, constituem as
escrituras eternas e divinas de que fala Dupuis. Os homens têm-nas, sem dúvida,
consultado antes de escrever; mas os primeiros livros em que se encontra
exposta a grande doutrina são os Vedas. É o molde em que se formou a religião
primitiva da Índia, religião inteiramente patriarcal, simples e pura, como uma
existência desprovida de paixões, passando vida tranqüila e forte ao contacto
da natureza esplêndida do Oriente.[ii]Os hinos védicos igualam em
grandeza e elevação moral a tudo o que, no decorrer dos tempos, o sentimento
poético engendrou de mais belo. Celebram Agni, o fogo, símbolo do Eterno Masculino
ou Espírito Criador; Sorna, o licor do sacrifício, símbolo do Eterno Feminino,
Alma do Mundo, substância etérea. Em sua união perfeita, esses dois princípios
essenciais do Universo constituem o Ser Supremo, Zians ou Deus.O Ser Supremo imola-se a si
próprio e divide-se para produzir a vida universal. Assim, o mundo e os seres
saídos de Deus voltam a Deus por uma evolução constante. Daí a teoria da queda
e da reascensão das almas que se encontra no Oriente. Ao sacrifício do fogo
resume-se todo o culto védico. Ao levantar do dia, o chefe de família, pai e
sacerdote ao mesmo tempo, acendia a chama sagrada no altar da Terra e, assim,
para o céu azul, subia alegre a prece, a invocação de todos à Força única e
viva, que está coberta pelo véu transparente da Natureza.Enquanto se cumpre o
sacrifício, dizem os Vedas, os Assuras ou Espíritos superiores e os Pitris ou
almas dos antepassados cercam os assistentes e se associam às suas preces.
Portanto, a crença nos Espíritos remonta às primeiras idades do mundo.Os Vedas afirmam a
imortalidade da alma e a reencarnação:“Há uma parte imortal do homem
que é aquela, o Agni, que cumpre aquecer com teus raios, inflamar com teus
fogos. – De onde nasceu a alma? Umas vêm para nós e daqui partem, outras partem
e tornam a voltar.”Os Vedas são monoteístas; as
alegorias que se encontram em cada página apenas dissimulam a imagem da grande
Causa primária, cujo nome, cercado de santo respeito, não podia, sob pena de
morte, ser pronunciado. As divindades secundárias ou devas personificam os auxiliares inferiores do Ser Supremo, as
forças vivas da Natureza e as qualidades morais.Do ensino dos Vedas decorria
toda a organização da sociedade primitiva, o respeito à mulher, o culto dos
antepassados, o poder eletivo e patriarcal. Os homens viviam felizes, livres e
em paz.Durante a época védica, na
vasta solidão dos bosques, nas margens dos rios e lagos, anacoretas ou rishis passavam os dias no retiro.
Intérpretes da ciência oculta, da doutrina secreta dos Vedas, eles possuíam já
esses misteriosos poderes, transmitidos de século em século, de que gozam ainda
os faquires e os jogues. Dessa confraria de solitários
saiu o pensamento inovador, o primeiro impulso que fez do Bramanismo a mais
colossal das teocracias.Krishna, educado pelos ascetas
no seio das florestas de cedros que coroam os píncaros nevoentos do Himalaia,
foi o inspirador das crenças dos hindus. Essa grande figura aparece na História
como o primeiro dos reformadores religiosos, dos missionários divinos. Renovou
as doutrinas védicas, apoiando-se sobre as idéias da Trindade, da imortalidade
da alma e de seus renascimentos sucessivos. Selada a obra com o seu próprio
sangue, deixou a Terra, legando à Índia essa concepção do Universo e da Vida,
esse ideal superior em que ela tem vivido durante milhares de anos.Sob nomes diversos, pelo mundo
espalhou-se essa doutrina com todas as migrações de homens, de que foi origem a
região da Índia. Essa terra sagrada não é somente a mãe dos povos e das
civilizações, é também o foco das maiores inspirações religiosas.Krishna, rodeado por um certo
número de discípulos, ia de cidade em cidade espalhar os seus ensinos:“O corpo – dizia ele [iii] –, envoltório da alma, que aí faz sua morada, é uma coisa
finita; porém, a alma que o habita é invisível, imponderável e eterna.
“O destino da alma depois da
morte constitui o mistério dos renascimentos. Assim como as profundezas do céu
se abrem aos raios dos astros, assim também os recônditos da vida se esclarecem
à luz desta verdade.“Quando o corpo entra em
dissolução, se a pureza é que o domina, a alma voa para as regiões desses seres
puros que têm o conhecimento do Altíssimo. Mas, se é dominado pela paixão, a alma
vem de novo habitar entre aqueles que estão presos às coisas da Terra. Assim, a
alma, obscurecida pela matéria e pela ignorância, é novamente atraída para o
corpo de seres irracionais.“Todo renascimento, feliz ou
desgraçado, é conseqüência das obras praticadas nas vidas anteriores.“Há, porém, um mistério maior
ainda. Para atingir a perfeição, cumpre conquistar a ciência da Unidade, que
está acima de todos os conhecimentos; é preciso elevar-se ao Ser divino, que
está acima da alma e da inteligência. Esse Ser divino está também em cada um de
nós:“Trazes
em ti próprio um amigo sublime que não conheces, pois Deus reside no interior
de todo homem, porém poucos sabem achá-lo. Aquele que faz o sacrifício de
seus desejos e de suas obras ao Ser de que procedem os princípios de todas as
coisas, obtém por tal sacrifício a perfeição, porque, quem acha em si mesmo sua
felicidade, sua alegria, e também sua luz, é um com Deus. Ora, fica sabendo, a
alma que encontrou Deus está livre do renascimento e da morte, da velhice e da
dor, e bebe a água da imortalidade.”
Krishna falava na sua missão e
da sua própria natureza em termos sobre os quais convém meditar. Dirigindo-se
aos seus discípulos, dizia:“Tanto eu como vós temos tido
vários nascimentos. Os meus só de mim são conhecidos, porém vós nem mesmo os
vossos conheceis. Posto que, por minha natureza, eu não esteja sujeito a nascer
e a morrer, todas as vezes que no mundo declina a virtude, e que o vício e a
injustiça a superam, torno-me então visível; assim me mostro, de idade em
idade, para salvação do justo, para castigo do mau, e para restabelecimento da
verdade.“Revelei-vos os grandes
segredos. Não os digais senão àqueles que os podem compreender. Sois os meus
eleitos: vedes o alvo, a
multidão só descortina uma ponta do caminho.” [iv]Por essas palavras a doutrina
secreta estava fundada. Apesar das alterações sucessivas que teve de suportar,
ela ficará sendo a fonte da vida em que, na sombra e no silêncio, se inspiram
todos os grandes pensadores da antiguidade.A moral de Krishna também era
muito pura:“Os males com que afligimos o
próximo perseguem-nos, assim como a sombra segue o corpo. – As obras inspiradas
pelo amor dos nossos semelhantes são as que mais pesarão na balança celeste. –
Se convives com os bons, teus exemplos serão inúteis; não receeis habitar entre
os maus para os reconduzir ao bem. – O homem virtuoso é semelhante a uma árvore
gigantesca, cuja sombra benéfica permite frescura e vida às plantas que a
cercam.”Sua linguagem elevava-se ao
sublime quando falava da abnegação e do sacrifício:“O homem de bem deve cair aos
golpes dos maus como o sândalo que, ao ser abatido, perfuma o machado que o
fere.”Quando os sofistas pediam que
explicasse a natureza de Deus, respondia-lhes:“Só o infinito e o espaço
podem compreender o infinito. Somente Deus pode compreender a Deus.”Dizia ainda:“Nada do que existe pode
perecer, porque tudo está contido em Deus. Visto isso, não é alvitre sábio
chorarem-se os vivos ou os mortos, pois nunca todos nós cessaremos de subsistir
além da vida presente.” [v]Sobre a comunicação dos
Espíritos:“Muito tempo antes de se
despojarem de seu envoltório mortal, as almas que só praticaram o bem adquirem
a faculdade de conversar com as almas que as precederam na vida espiritual.Ӄ isto o que, ainda em nossos
dias, afirmam os brâmanes pela doutrina dos Pitris, mesmo porque, em todos os
tempos, a evocação dos mortos tem sido uma das formas da sua liturgia.Tais são os principais pontos
dos ensinos de Krishna, que se encontram nos livros sagrados conservados ainda
nos santuários do sul do Indostão.A princípio, a organização
social da Índia foi calcada pelos brâmanes sobre suas concepções religiosas.
Dividiram a sociedade em três classes, segundo o sistema ternário; mas, pouco a
pouco, tal organização degenerou em privilégios sacerdotais e aristocráticos. A
hereditariedade impôs os seus limites estreitos e rígidos às aspirações de
todos. A mulher, livre e honrada nos tempos védicos, tornou-se escrava, e dos
filhos só soube fazer escravos, igualmente. A sociedade condensou-se num molde
implacável, a decadência da Índia foi a sua conseqüência inevitável.
Petrificado em suas castas e seus dogmas, esse país teve um sono letárgico,
imagem da morte, que nem mesmo foi perturbado pelo tumulto das invasões estrangeiras!
Acordará ainda? Só o futuro poderá dizê-lo.Os brâmanes, depois de terem
estabelecido a ordem e constituído a sociedade, perderam a Índia por excesso de
compressão. Assim também, despiram toda a autoridade moral da doutrina de
Krishna, envolvendo-a em formas grosseiras e materiais.Se considerarmos o Bramanismo
somente pelo lado exterior e vulgar, por suas prescrições pueris, cerimonial
pomposo, ritos complicados, tábulas e imagens de que é tão pródigo, seremos
levados a nele não ver mais que um acervo de superstições. Seria, porém, erro
julgá-lo unicamente pelas suas aparências exteriores. No Bramanismo, como em
todas as religiões antigas, cumpre distinguir duas coisas:•
Uma é o culto e o
ensino vulgar, repletos de ficções que cativam o povo, auxiliando a conduzi-lo
pelas vias da submissão. A esta ordem de idéias liga-se o dogma da metempsicose
ou renascimento das almas culpadas em corpos de animais, insetos ou plantas,
espantalho destinado a atemorizar os fracos, sistema hábil imitado pelo
Catolicismo quando concebeu os mitos de Satanás, do inferno e dos suplícios eternos;
•
A outra é o ensino
secreto, a grande tradição esotérica que fornece sobre a alma e seus destinos,
e sobre a causa universal, as mais puras e elevadas reflexões. Para conseguir
isso, é necessário penetrar-se nos mistérios dos pagodes, folhear os
manuscritos que estes encerram e interrogar os brâmanes sábios.
*Cerca de seiscentos anos antes
da era Cristã, um filho de rei, Çãkyamuni ou o Buddha, foi acometido de
profunda tristeza e imensa piedade pelos sofrimentos dos homens. A corrupção
invadira a Índia, logo depois de alteradas as tradições religiosas, e, em
seguida, vieram os abusos da teocracia ávida do poder. Renunciando às
grandezas, à vida faustosa, o Buddha deixa o seu palácio e embrenha-se na floresta silenciosa. Após longos
anos de meditação, reaparece para levar ao mundo asiático senão uma crença
nova, ao menos uma outra expressão da Lei.Segundo o Budismo,[vi] está no desejo a causa do mal, da dor, da morte e do
renascimento. É o desejo, é a paixão que nos prende às formas materiais e que
desperta em nós mil necessidades sem cessar, reverdecentes e nunca saciadas,
tornando-se assim, outros tantos tiranos. O fim elevado da vida é arrancar a
alma aos turbilhões do desejo. Consegue-se isso pela reflexão, austeridade,
pelo desprendimento de todas as coisas terrenas, pelo sacrifício do eu, pela isenção do cativeiro egoísta
da personalidade. A ignorância é o mal soberano de que decorrem o sofrimento e
a miséria; o principal meio para se melhorar a vida no presente e no futuro é
adquirir-se o conhecimento.
O conhecimento compreende a
ciência da natureza visível e invisível, o estudo do homem e dos princípios das
coisas. Estes são absolutos e eternos. O mundo, saído por sua própria atividade
de um estado uniforme, está numa evolução contínua. Os seres, descidos do
Grande-Todo a fim de operarem o problema da Perfeição, inseparável do estado de
liberdade e, por conseguinte, do movimento e do progresso, tendem sempre a
voltar ao Bem perfeito. Não penetram no mundo da forma senão para trabalharem
no complemento da sua obra de aperfeiçoamento e elevação. Podem realizar isso
pela Ciência, ou Upanishaci, e
completá-lo pelo Amor, ou Purana.A Ciência e o Amor são dois
fatores essenciais do Universo. Enquanto não adquire o amor, o ser está
condenado a prosseguir na série das reencarnações terrestres.Sob a influência de tal
doutrina, o instinto egoísta vê estreitar-se pouco a pouco o seu circulo de
ação. O ser aprende a abraçar num mesmo amor tudo o que vive e respira; e isto
nada mais é que um dos degraus da sua evolução, pois esta deve conduzi-lo a só
amar o eterno princípio de que emana todo o amor, e para onde todo ele deve
necessariamente voltar. Esse estado é o do Nirvana.Essa expressão, diversamente
comentada, tem causado muitos equívocos. Em conformidade com a doutrina secreta
do Budismo,[vii] o Nirvana não é, como ensina a Igreja do Sul e o
Grã-Sacerdote do Ceilão, a perda da individualidade e o esvaecimento do ser no
nada, mas sim a conquista, pela alma, da perfeição, e a libertação definitiva
das transmigrações e dos renascimentos no seio das humanidades. Cada qual
executa o seu próprio destino. A vida presente, com suas alegrias e dores, não
é senão a conseqüência das boas ou más ações operadas livremente pelo ser nas
existências anteriores.
O presente explica-se pelo
passado, não só para o mundo tomado em seu conjunto, como também para cada um
dos seres que o compõem. Designa-se por Carma
toda a soma de méritos ou de deméritos adquiridos pelo ser. O Carma é para este, em todos os
instantes da sua evolução, o ponto de partida do futuro, o motor de toda a
justiça distributiva:“Em
Buddha[viii] uno-me à dor de
todos os meus irmãos e, entretanto, sorrio e sinto-me contente porque vejo que
a liberdade existe. Sabei, ó vós que sofreis; mostro-vos a verdade; tudo o que
somos é resultante do que fomos no passado. Tudo é fundado sobre nossos
pensamentos; tudo é obra dos próprios pensamentos. Se as palavras e ações de um
homem obedecem a um pensamento puro, a liberdade segue-o como uma sombra. O
ódio jamais foi apaziguado pelo ódio,
pois não é vencido senão pelo amor. Assim como a chuva passa através de uma
casa mal coberta, assim a paixão atravessa um espírito pouco refletido. Pela
reflexão, moderação e domínio de si próprio, o homem transforma-se numa rocha
que nenhuma tempestade pode abater. O homem colhe aquilo que semeou. Eis a
doutrina do Carma.”
A maior parte das religiões
recomenda-nos fazer o bem em vista de uma recompensa de além-túmulo. Está aí um
móbil egoísta e mercenário que não se encontra do mesmo modo no Budismo. É
necessário praticar o bem, diz Léon de Rosny,[ix] porque o bem é o fim supremo da Natureza. É conformando-se
às exigências dessa lei que se adquire a única satisfação verdadeira, a mais bela
que pode apreciar o ser desprendido dos entraves da forma e das atrações do
desejo, causas contínuas de decepção e de sofrimento.
A compaixão do Budismo, sua
caridade, estende-se a todos os seres. Segundo ele, todos são destinados ao
Nirvana. E, por seres, devem entender-se os animais, os vegetais e mesmo os
corpos inorgânicos. Todas as formas da vida se encadeiam, de acordo com a lei
grandiosa da evolução e do transformismo. Em parte alguma do universo deixa de
existir vida. A morte não é senão uma ilusão, um dos agentes da vida que exige
um renovamento contínuo e transformações incessantes. O inferno, para os
iniciados na doutrina, não é outra coisa senão o remorso e a ausência do amor.
O purgatório está em toda parte onde se encontra a forma e onde evoluciona a
matéria. Está em nosso globo, ao mesmo tempo em que nas profundezas do
firmamento estrelado.O Buddha e seus discípulos
praticavam o Diana, ou a contemplação, o êxtase. Durante esse estado, o
Espírito destaca-se e comunica-se com as almas que deixaram a Terra.[x]O Budismo esotérico ou vulgar,
repelido de todos os lados da Índia no século 6º, após lutas sangrentas
provocadas pelos brâmanes, sofreu vicissitudes diversas e numerosas
transformações. Um dos seus ramos ou Igreja, a do Sul, em algumas das suas
interpretações, parece inclinar-se para o ateísmo e materialismo. A do Tibet
conservou-se deísta e espiritualista. O Budismo também se tornou a religião do
império mais vasto do mundo: a China. Seus fiéis adeptos compõem, hoje, a terça
parte da população do globo; mas, em todos os meios onde ele se espalhou, do
Ural ao Japão, foram veladas e alteradas as tradições primitivas. Nele, como em
qualquer outra doutrina, as formas materiais do culto abafaram as altas
aspirações do pensamento. Os ritos, as cerimônias supersticiosas, as fórmulas
vãs, as oferendas, as preces sonoras, substituíram o ensino moral e a prática
das virtudes.[xi] Entretanto, os principais ensinamentos do Buddha foram
conservados nos Sutras.[xii] Sábios, herdeiros da ciência e dos poderes dos antigos
ascetas, possuem também, dizem,[xiii] a doutrina secreta na sua integridade. Esses estabeleceram
suas moradas longe das multidões humanas, sobre os planaltos das montanhas, de
onde os campos da Índia apenas se divisam vagos e longínquos como num sonho. É
na atmosfera pura e calma das solidões que habitam os Mãhãtmas. Possuindo segredos que lhes permitem desafiar a dor e
a morte, passam os dias na meditação, esperando a hora problemática em que o
estado moral da Humanidade torne possível a divulgação dos seus poderes extraordinários.
Como, porém, nenhum fato bastante autêntico tem vindo até hoje confirmar essas
citações, ainda fica por provar a existência dos Mãhãtmas.
Há vinte anos que grandes
esforços foram empregados para espalhar a doutrina búdica no Ocidente. A raça
latina, porém, ávida de movimento, de luz e liberdade, parece pouco disposta a
assimilar-se a essa religião de renunciamento, de que os povos orientais
fizeram uma doutrina de aniquilamento voluntário e de prostração intelectual. O
Budismo, na Europa, apenas tem permanecido no domínio de alguns homens de
letras, que honram o esoterismo tibetano. Este, em certos pontos, abre ao
Espírito humano perspectivas estranhas. A teoria dos dias e das noites de
Brahma – Manvantara e Pralaya –, que é uma renovação das
antigas religiões da Índia, parece que está em muita contradição com a idéia do
Nirvana. De qualquer modo, esses períodos imensos de difusão e concentração,
durante os quais a grande causa primordial absorve todos os seres, permanece
só, imóvel, adormecida sobre os mundos dissolvidos, atraem o pensamento numa
espécie de vertigem. A teoria dos sete princípios constitutivos do homem e dos
sete planetas,[xiv] sobre os quais corre a roda da vida num movimento ascensional,
também constitui pontos originais e sujeitos a exame.
Uma coisa domina este ensino:
é a lei de caridade proclamada pelo Buddha – um dos mais poderosos apelos ao
bem que tem ecoado neste mundo –; mas, segundo a expressão de Léon de Rosny,[xv] “essa lei calma e pura, porque nada traz em seu apoio,
ficou ininteligível para a maioria dos homens, visto lhes revoltar os apetites
e não prometer a espécie de salário que querem ganhar”.
O Budismo, apesar das suas
manchas e sombras, nem por isso deixa de ser uma das maiores concepções
religiosas das que têm aparecido neste mundo, uma doutrina toda de amor e
igualdade, uma reação poderosa contra a distinção de castas que foi estabelecida
pelos brâmanes, doutrina que, em certos pontos, oferece analogias importantes
com o Evangelho de Jesus de Nazaré.
[i] Os signos do Zodíaco.
[ii] A idade dos Vedas ainda não pôde ser fixada.
Souryo-Shiddanto, astrônomo hindu, cujas observações sobre a posição e percurso
das estrelas remonta a cinqüenta e oito mil anos, fala dos Vedas como obras já
veneráveis pela sua antiguidade. (De O
Espiritismo ou Faquirismo Ocidental, pelo Dr. Paul Gibier, capítulo V.)
[iii] Bhagavad-Gita.
[iv] Bhagavad-Gita,
passim.
[v] Mahabhãrata, trad. H. Fauche.
[vi] Le Bouddhisme, por Léon de Rosny; La Science des Religions, por Burnouf.
[vii] Le Bouddhisme êsotêrique, por Sinnet.
[viii] Dhammapada.
[ix] La Morale du Bouddhisme.
[x] L’Ame et ses Manifestations à travers
l’Histoire. por Eug. Bonnemère.
[xi] Revue des Deux-Mofldes, 15 de março de
1876, artigo de G. Bousquet.
[xii] Le Lauta Vistara, trad. Foucaux: Le Lotus de la Bonne Lol, trad. Burnout.
[xiii] Le
Bouddhisme Esotérique, por Sinnet.
[xiv] Por que sete? Só em nosso sistema solar
contam-se oito planetas principais e as perturbações observadas em Netuno fazem
supor que existe ainda um outro para além daquele.
[xv] La
Morale du Bouddhisme.
23:51
Tags :
leon denis
,
religiao
Subscribe by Email
Follow Updates Articles from This Blog via Email
No Comments