PALAVRAS DE RAMATIS 04.
FISIOLOGIA DA ALMA.
A Alimentação Carnívora e o Vegetarianismo.
PERGUNTA: — Como poderíamos vencer esse condicionamento biológico e mesmo
psíquico, em que a nossa constituição orgânica é hereditariamente predisposta à alimentação
carnívora? A ciência médica afirma que, à simples idéia de nos alimentarmos, o sistema
endócrino já produz sucos e hormônios de simpatia digestiva à carne, e dessa sincronia perfeita
entre o pensamento e o metabolismo fisiológico, achamos que fica demonstrada a fatal
necessidade de nutrição carnívora. Em compensação, muitos vegetarianos hão revelado alergia a
frutas ou hortaliças!Não é isso bastante para justificar a afirmativa de que onosso organismo
precisa evidentemente de carne, a fim de poder-se desenvolver sadia e vigorosamente?
RAMATÍS RESPONDE: - O cigarro também não foi criado para ser fumado fanaticamente pelo
homem; este é que imita a estultice dos bugres descobertos por Colombo e termina
transformando-se num escravo da aspiração de ervas incineradas. A simples lembrança do
cigarro, o vosso sistema endócrino, num perfeito trabalho psicofísico, de prevenção, também
produz antitoxinas que devem neutralizar o veneno da nicotina e proteger-vos da introdução da
fumaça fétida nos pulmões delicados. A submissão ao desejo de ingerir a carne é igual à
submissão do fumante inveterado para com o seu comando emotivo, pois ele é mais vítima de
sua debilidade mental do que mesmo de uma invencível atuação fisiológica. O viciado no fumo
esquece-se de si mesmo e, por isso, aumenta progressivamente o uso do cigarro, acicatado
continuamente pelo desejo insatisfeito, criando, então, uma segunda natureza, que se torna
implacável e exigente carrasco.
Comumente fumais sem notar todos os movimentos preliminares que vos
comandam automaticamente, desde a abertura da carteira até a colocação do cigarro nos lábios
descuidados; completamente inconscientes dessa realidade viciosa, já não fumais, mas sois
fumados pelo cigarro, guiados pelo instinto indisciplinado.
No vício da carne ocorre o mesmo fenômeno; viveis distanciados da realidade de que sois
escravos do habito de comer carne. Se o sistema endócrino produz sucos e hormônios à simples
idéia de ingerirdes carne, nem por isso se comprova que fostes especificamente criados para a
nutrição carnívora. E apenas um velho hábito, que atendeu às primeiras manifestações da vida
grosseira do homem das cavernas trogloditas e que, pelo vosso descuido, ainda vos comanda o
mecanismo fisiológico, submetendo-o à sua direção.
As providências preventivas, no metabolismo humano, devem ser tomadas em qualquer
circunstância; o hindu que se habituou à ingestão de frutos sazonados e vegetais sadios, também
fabrica os seus hormônios e sucos digestivos à simples idéia da alimentação com que está
acostumado. A diferença está em que ele carece de hormônios destinados à nutrição puramente
vegetal, enquanto que vós tendes que produzi-los para a cobertura digestiva dos despojos da
nutrição carnívora.
Alegais que muitas pessoas se tornam enfermiças, ao se devotarem à alimentação
vegetariana; em verdade, comprovais, assim, que sois tão estratificados pelo mau hábito de
alimentação carnívora, que o vosso metabolismo fisiológico já não consegue assimilar a contento
os frutos sadios e os vegetais nutritivos, manifestando-se em vós os pitorescos fenômenos de
alergia. No entanto, desde que disciplinásseis a vontade e vigiásseis mentalmente o desejo
mórbido, despertando da inconsciência imaginativa da nutrição zoofágica, logo sentir-vos-ieis
mais libertos do indefectível condicionamento biológico carnívoro.
PERGUNTA: — Quais alguns exemplos que nos possam fazer compreender essa
“inconsciência imaginativa” diante da carne?
RAMATÍS RESPONDE: — E que há mais invigilância mental do que condicionamento biológico,
de vossa parte, no tocante à alimentação carnívora, e isso podeis verificar pela contradição do
vosso gosto e paladar, que se pervertem sob a falsa imaginação. Quantas vezes, diante de
cadáveres de animais vítimas de um incêndio ou de uma explosão, costumais sentir náuseas e
repugnância devido ao fato de vísceras carbonizadas exalarem o odor fétido de carne queimada!
Entretanto, momentos depois, atraídos pelo aspecto da churrascaria pitoresca, excitaivos,
dominados pelo mórbido apetite, esquecendo-vos de que o churrasco também é carne de animal
queimada a fogo lento, diferindo apenas pela natureza dos molhos que se lhe acrescentam. A
contradição é flagrante: ali, a repugnância vos domina diante do cadáver assado na explosão;
acolá, o condicionamento biológico ou a negligência de raciocínio produz sucos e hormônios que
ativam o apetite degenerado. Tudo isso ocorre, no entanto, só porque ainda alimentais a ilusão de
um prazer nutritivo, que é sugerido por igual resto mortal, porém ao molho excitante.A fumaça
repulsiva, que se exala do cadáver de um boi carbonizado no incêndio, é a mesma que ondula
sobre as grades gordurosas da churrascaria, em que as vísceras do animal vertem albumina com
vinagre e suco de cebola. O pedaço de carne recortado dos despojos cadavéricos da vitela assada
ao fogo da estrebaria pode ser tão “macio e gostoso” quanto o “filet mignon” que o garçom de
camisa engomada vos oferece sobre o prato de porcelana. A língua arrancada do bovino crestado,
na pólvora da explosão inesperada, pode ser tão “apetitosa” quanto a que vos é oferecida em
luxuoso restaurante e sob as ondulações melodiosas da festiva orquestra!
Enquanto vos deixardes comandar discricionariamente por essa vontade débil e pela imaginação
deformada, ou inconsciência imaginativa, sereis sempre as vítimas dos vícios tolos do mundo e
da alimentação perniciosa da carne. E evidente que não há condicionamento de espécie alguma,
quando se trata dessa disposição infantil, em que a vossa imaginação ora se torna lúcida,
lobrigando a realidade da carne queimada, ora se ilude completamente vendo um suculento
petisco naquilo que antes era uma realidade repugnante.
PERGUNTA: — Além da enfermidade que pode ser transmitida pelo animal
hipertrofiado na engorda e da culpa do homem quanto à sua morte, a ingestão de carne causa
também prejuízos diretos à alma?
RAMATÍS RESPONDE: — O animal possui o “duplo-astral”, que é revestido de magnetismo
astral; esse veículo etéreo-astral, sobrevive à dissolução do corpo físico e serve de “matriz” para
que, no futuro, o animal se integre novamente na sua espécie particular. Embora esse duplo-
astral seja ainda destituído de substância mental, que lhe permitiria alguns reflexos de razão, é
poderosamente receptivo às energias existentes no meio em que vive o animal. Conforme a vida
deste último, o seu invólucro sobrevivente também revela a natureza melhor ou pior da espécie a
que o animal pertence, Em conseqüência, a aura do porco, por exemplo, é sumamente grosseira,
instintiva e letárgica, em comparação com a aura do cão, do gato ou do carneiro, os quais já se
situam num plano mais afetivo e revelam alguns bruxuleios de entendimento racional.
O chiqueiro é de um clima repulsivo e repleto de energias deletérias, que atuam tanto no
campo físico como na esfera astral. Quando o suíno é sacrificado, a sua carne reflui sob o
impacto violento, febricitante e doloroso da morte; o choque que lhe extingue a existência, ainda
plena de vitalidade física, também exacerba-lhe o duplo-etéreo astral, e que está sob o comando
geral do espírito-grupo. Essa matança prematura, que interrompe de súbito a corrente vital
energética, irrita furiosamente as forças de todos os planos interpenetrantes no animal; os demais
veículos se contraem e se confrangem, ao mesmo tempo, atritando-se num turbilhão de energias
contraditórias e violentas, que se libertam como verdadeiros explosivos etéricos. Há completa
“coagulação físio-astral”; o sangue, que é a linfa da vida e o portador dos elementos mais
poderosos do mundo invisível, estagna em seu seio o “quantum” de energia inferior do mundo
astral e que o próprio porco carreia para o seu corpo físico.
No instante da morte, as energias deletérias, que flutuam na aura do suíno e lhe
intercambiam o fenômeno da vida inferior, coagulam-se na carne sacrificada e combinam-se com
o “tônus-vital” degradante, que provém da engorda e do sofrimento do animal no charco de
albumina e uréia. A carne do porco fica verdadeiramente gomosa, pela substância astral que se
coagula ao seu redor e se fixa viscosamente nas fibras cadavéricas.
Os espíritas e demais estudiosos da alma sabem que todas as coisas e seres são portadores
de um veículo etéreo-astral, o qual absorve as energias ambientais e expele as que são gastas nas
trocas afins aos seus tipos psíquicos ou físicos.
Quando ingeris retalhos de carne de porco, absorveis também sua parte astral inferior e que
adere à coagulação do sangue; essa energia astral desregrada e pantanosa é agressiva e nauseante
nos planos etéricos; assim que os sucos gástricos decompõem a carne física no estômago
humano, liberta-se, então, esse visco astral, repelente e pernicioso. Sob a lei de atração e
correspondência vibratória nos mesmos planos, a substância gomosa, que é exsudada pela carne
digerida no estômago, incorpora-se, então, ao corpo etéreo-astral do homem e abaixa as
vibrações de sua aura, colando-se à delicada fisiologia etérica invisível, à semelhança de pesada
cerração oleosa e adstringente. O astral albuminoso do porco, que também é ingerido com o
“delicioso petisco” assado, transforma-se em densa cortina fluídica no campo áurico do homem
demasiadamente carnívoro. Deste modo, dificulta-se o processo normal de assistência espiritual
daqui, pois os Espíritos Guias já não conseguem atravessar a barreira viscosa do baixo
magnetismo, a fim de formularem a intuição orientadora aos seus pupilos carnívoros. A aura se
apresenta suja das emanações do astral inferior e ofuscante, que se exsuda da carne do suíno.
Os homens glutônicos e excessivamente afeiçoados à carne de porco afirmam-se dotados
de invejável vigor sexual, enquanto que as criaturas exclusivamente vegetarianas são algo
empalidecidas, letárgicas e distanciadas da virilidade costumeira do mundo das paixões
humanas. Esse fato comprova que o aumento da nutrição de carne acarreta também o aumento da
sensação de ordem mais primitiva. Mas, em sentido oposto, a preferência pela alimentação
vegetariana é poderoso auxiliar para o espírito se libertar do jugo material.
Os antigos banquetes pantagruélicos, dos romanos e babilônicos, em cujas mesas lautas
se amontoavam assados e cozidos cadavéricos, terminavam sempre nas mais lúbricas orgias, que
ainda mais se superexcitavam com a influência do astral inferior dos animais devorados. Ainda
hoje, o excesso de alimentação carnívora, que é preferida pelos aldeões, estigmatiza muitos deles
com o “fácies suínico” ou o “estigma bovino”, que lhes dá um ar pesadão e letárgico,
caracterizando fisionomias que lembram vagamente o temperamento dos animais devorados. E a
excessiva carga astral que lhes interpenetra o perispírito e transforma a configuração humana,
fazendo transparecer os contornos do tipo animal inferior.
Nos planos erráticos do Além, é muito comum encontrarmos espíritos que se afeiçoaram
tão fanaticamente aos despojos dos animais, que passam a reproduzir certas caricaturas circenses,
com visíveis aspectos animalescos caldeados pelo astral inferior!
PERGUNTA: — Os orientais, que são absolutamente vegetarianos, têm conhecimento
completo dos efeitos que nos relatais, sobre a carne?
RAMATÍS RESPONDE: — O mestre hindu, meditativo e místico, que procura continuamente o
contato com os planos mais delicados, evita a ingestão de carne, que lhe contamina a aura com o
astral inferior. Os “guias”, muito conhecidos na tradição espírita, sempre lutam com dificuldade
quando desejam intuir-vos após os lautos banquetes de vísceras engorduradas, que digeris para
atender ao sofisma das proteínas. Principalmente nos trabalhos de materializações, os delicados
fenômenos são imensamente prejudicados pela presença de assistentes com os estômagos
saturados de carne, e que identificam o clima repulsivo do necrotério onde estão se decompondo
vísceras.
E esse, também, um dos motivos por que a maioria dos médiuns, obcecados pelas
churrascadas e pelos banquetes opíparos onde se abusa da carne, estaciona em improdutivo
animismo e mantém só apagados contatos com os planos mais altos. Alguns médiuns glutões e
exageradamente carnívoros ironizam e subestimam as práticas e os ensinamentos esoteristas,
destinados a apurar a sensibilidade psíquica através do regime vegetariano. Essas criaturas
pensam que as forças sutis dos planos angélicos podem-se casar discricionariamente às erutações
fluídicas da digestão provinda dos retalhos cadavéricos! Raras são as que compreendem que, nos
dias de trabalhos mediúnicos, passes ou radiações, a carne deve ser eliminada de suas mesas.
Outras há que ignoram que o êxito de operações fluídicas à distância não depende absolutamente
de proteínas animais mas, principalmente, da exsudação ectoplasmática de um sistema orgânico
limpo de impurezas astrais.
PERGUNTA: — Qual o processo mais eficiente para o discípulo eliminar de sua aura ou
perispírito os fluidos deletérios que são exsudados pela carne animal?
RAMATÍS RESPONDE: — E a terapêutica do jejum o processo que melhor auxilia o espírito a
drenar as substâncias tóxicas que provêm do astral inferior pois, devido ao descanso digestivo,
eliminam-se os fluidos perniciosos. A Igreja Católica, ao recomendar o jejum aos seus fiéis,
ensina-lhes inteligente método de favorecimento à inspiração superior. As figuras etéreas dos
frades trapistas, dos santos ou dos grandes místicos, sujeitos a alimentação frugal, comprovam o
valor terapêutico dessa alimentação. O jejum aquieta a alma e a libera em direção ao mundo
etéreo; auxilia a descarga das toxinas do astral inferior, que se situam na aura humana dos
“civilizados”.
Aliás, já existem no vosso mundo algumas instituições hospitalares que têm podido
extinguir gravíssimas enfermidades sob o tratamento do jejum ou pela alimentação
exclusivamente à base de suco de frutas. Jesus, a fim de não reduzir o seu contato com o Alto,
ante o assédio tenaz e vigoroso das forças das trevas, mantinha a sua mente límpida e a
governava com absoluta segurança graças aos longos jejuns, em que eliminava todos os resíduos
astrais, perturbadores dos veículos intermediários entre o plano espiritual e o físico. O Mestre
não desprezava esse recurso terapêutico para a tessitura delicada do seu perispírito; não se
esquecia de vigiar a sua própria natureza divina, situada num mundo conturbado e agressivo, que
atuava continuamente como poderoso viveiro de paixões e detritos magnéticos a forçarem-lhe a
fisiologia angélica. Evitava sempre a alimentação descuidada e, quando sentia pesar em sua
organização as emanações do astral inferior, diminuía a resistência material ao seu espírito,
praticando o jejum, que lhe favorecia maior libertação para o seu mundo celestial.
Nunca vimos Jesus partindo nacos de carne ou oferecendo perfis de porco aos seus
discípulos; ele se servia de bolos feitos de mel, de fubá e de milho, combinados aos sucos ou
caldos de cereja, morangos e ameixas.
PERGUNTA: — Na hora da desencarnação, a alimentação carnívora pode prejudicar o
desprendimento do espírito?
RAMATÍS RESPONDE: — A Lei é imutável em qualquer setor da vida; o êxito liberatório na
desencarnação depende, acima de tudo, do tipo de vibrações boas ou más na hora em que o
desencarnante é submetido à técnica espiritual desencarnatória. O perverso que se lançou num
abismo de crueldade, na vida física, será sempre um campo de energias trevosas e impermeáveis
à ação dos espíritos benéficos; mas o santo, que se dá todo em amor e serviço ao próximo, torna-
se uma fonte receptiva de energias fulgentes, que lhe abrem clareiras para a ascensão radiosa.
Justamente após o abandono do corpo físico é que o campo energético do perispírito revela, no
Além, mais fortemente, o resultado do metabolismo astral que entreteve na Terra. Em
conseqüência, o homem carnívoro, embora evangelizado, sempre há de se sentir mais imantado
ao solo terráqueo do que o vegetariano que, além de ser espiritualizado, incorpore energias mais
delicadas em seu veículo perispiritual. Reconhecemos que, enquanto o facínora vegetariano pode
ser um oceano de trevas, o carnívoro evangelizado será um campo de Luz; no entanto, como a
evolução induz à harmonia completa no conjunto psicofísico, entre o homem carnívoro e o
vegetariano, que cultuem os mesmos princípios de Jesus, o último sempre haverá de lograr mais
êxito na sua desencarnação.
A ausência de carne no organismo livra-o do excesso de toxinas; na desencarnação, a
alma se liberta, assim, de um corpo menos denso e menos intoxicado de albumina e uréia, que
provocam sempre o abaixamento das vibrações do corpo etérico. O boi ou o porco entretêm a sua
vida em região excessivamente degradante, cuja substância astral pode aderir à aura humana, não
só retardando o dinamismo superior como ainda reduzindo a fluência das emoções angélicas.