sexta-feira, 13 de julho de 2012

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O cálice


 O cálice

 

A chuva benéfica e abundante cai dos céus

Mitigando a sede da terra.

Assim também, o Amado faz chover sobre os homens

Os poderes e as bênçãos.

No entanto, choras e desesperas...

Por que não recolheste a tempo a tua parte?

— Nada vi — responderás...

É porque teus olhos estavam nevoados na atmosfera do sonho.



O Senhor passa todos os dias,

Distribuindo os dons celestiais,

Mas as ânforas do teu coração vivem transbordando de substâncias estranhas.



Aqui, guardas o vinagre dos desenganos,

Acolá, o envenenado licor dos caprichos.

O Amado é incapaz de violentar a tua alma.

Seu carinho aguarda a confiança espontânea,

Seu coração freme de júbilo,

Na expectativa de entregar-te os tesouros eternos...

Mas, até agora,

Persegues a fantasia e alimentas curiosamente a ilusão.

Todavia, o Amado espera.

E dia virá,

Na estrada longa do destino,

Em que estenderás ao seu amor infinito

O cálice do coração lavado e vazio.

O irmão


Por que ajuizas com ironia,

Sobre as obscuridades do irmão que sobe dificilmente a montanha?



Quando atravessava a floresta

O pobrezinho julgou que o Amado lhe falava à mente pela voz do trovão



E lhe erigiu altares

Enfeitados de flechas.

Depois,

Quando penetrou noutros círculos,

Acreditou que o Senhor pertencia somente ao seu grupo

E que as outras comunidades humanas eram condenadas...



Lutou, sofreu, feriu-se em dolorosas experiências.

O Amado, porém, jamais o deserdou por isso.

Deu-lhe novas forças,

Concedeu-lhe oportunidades diferentes.

Por vezes,

Buscou-o no fundo dos abismos,

Como pai carinhoso,

Em busca da criancinha abandonada.



De tempos a tempos,

Fê-lo dormir no regaço,

Ao influxo do bendito esquecimento,

Para que o sol do trabalho lhe sorrisse outra vez.

Não observas em seu caminho áspero a tua própria história?

Não atormentes com palavras amargas o irmão que se eleva

Laboriosamente,

Dando ao mundo o que possui de melhor.

Ama-o, faze-lhe o bem que possas.

Se já atingiste

Algum topo de colina,

Contempla as culminâncias que te aguardam

Entre as nuvens,

E estende as mãos fraternas

Aquele que ainda não pode ver o que já vês.


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