* A presente citação e
todas as demais que iniciam cada capítulo foram
extraídas de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de
Allan Kardec. (Nota do
autor espiritual.)
(1) Romanos, 2:1
Tua
medida
“Não
julgueis, afim de que não sejais julgados, porque vós
sereis julgados segundo
houverdes julgado os outros, e se servirá para convosco da mesma
medida da qual
vos servistes para com eles.”
(Capítulo
10, item 11)*
Toda
opinião ou
juízo que desenvolvemos no presente está intimamente
ligado a fatos
antecedentes.
Quase sempre, todos estamos vinculados a
fatores de situações pretéritas, que incluem
atitudes de defesa, negações ou
mesmo inúmeras distorções de certos aspectos
importantes da vida. Tendências ou
pensamentos julgadores estão sedimentados em nossa
memória profunda, são
subprodutos de uma série de conhecimentos que adquirimos na
idade infantil e
também através das vivências pregressas.
Censuras, observações, admoestações,
superstições, preconceitos, opiniões,
informações e influências do meio,
inclusive de instituições diversas, formaram em
nós um tipo de “reservatório
moral” - coleção de regras e preceitos a ser
rigorosamente cumpridos -, do
qual nos servimos para concluir e catalogar as atitudes em boas ou
más.
Nossa concepção ético-moral está
baseada
na noção adquirida em nossas experiências
domésticas, sociais e religiosas, das
quais nos servimos para emitir opiniões ou pontos de vista, a
fim de
harmonizarmos e resguardarmos tudo aquilo em que acreditamos como sendo
“verdades absolutas”. Em outras palavras, como forma de
defender e proteger
nossos “valores sagrados”, isto é, nossas
aquisições mais fortes e poderosas,
que nos servem como forma de sustentação.
Em razão
disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em
relação às outras pessoas nos
informam sobre tudo aquilo que temos por dentro. Explicando melhor, a
“forma” e
o “material” utilizados para sentenciar os outros residem
dentro de nós.
Melhor do
que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a
decisão de
visualizar bem fundo nossa intimidade, e nos perguntarmos onde
está tudo isso em
nós. Os indivíduos podem
ser considerados, nesses casos, excelente espelho, no qual veremos
quem somos
realmente. Ao mesmo tempo, teremos uma ótima oportunidade de nos
transformar
intimamente, pois estaremos analisando as características gerais
de nossos
conceitos e atitudes inadequados.
Só
poderemos nos reabilitar ou reformar até onde conseguimos
nos perceber; ou
seja, aquilo que não está consciente em nós
dificilmente conseguiremos reparar
ou modificar.
Quando
não enxergamos a nós mesmos, nossos comportamentos
perante os outros não são
totalmente livres para que possamos fazer escolhas ou emitir
opiniões. Estamos
amarrados a formas de avaliação, estruturadas nos
mecanismos de defesa -
processos mentais inconscientes que possibilitam ao
indivíduo manter sua
integridade
psicológica através de uma forma de
“auto-engano.”
Certas
pessoas, simplesmente por não conseguirem conviver com a
verdade, tentam
sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções,
disfarçando-os no
inconsciente.
Em todo
comportamento humano existe uma lógica, isto é, uma
maneira particular de
raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os
outros,
não se levando em conta suas realidades, mesmo sendo
consideradas preconceituosas,
neuróticas ou psicóticas, é não ter bom
senso ou racionalidade, pois na vida
somente é válido e possível o
“autojulgamento”.
Não
obstante, cada ser humano descobre suas próprias formas de
encarar a vida e
tende a usar suas oportunidades vivenciais, para tornar-se tudo aquilo
que o
leva a ser um “eu individualizado”.
Devemos
reavaliar nossas idéias retrógradas, que estreitam nossa
personalidade, e, a
partir daí, julgar os indivíduos de forma não
generalizada, apreciando suas
singularidades, pois cada pessoa tem uma consciência
própria e diversificada
das outras tantas consciências.
Julgar
uma ação é diferente de julgar a criatura. Posso
julgar e considerar a
prostituição moralmente errada, mas não posso e
não devo julgar a pessoa
prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do
outro, “sentindo
e pensando com ele”, em vez de “pensar a respeito
dele”, teremos o
comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas.
Segundo
Paulo de Tarso, “é indesculpável o homem, quem quer
que seja, que se arvora em
ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois
praticará as
mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento”. (1)
Essencialmente,
tudo aquilo que decretamos ou sentenciamos tornar-se-á nossa
“real medida”:
como iremos viver com nós mesmos e com os outros.
O ser humano
é um
verdadeiro campo magnético, atraindo pessoas e
situações, as quais se
sintonizam amorosamente com seu mundo mental, ou mesmo de forma
antipática com
sua maneira de ser. Dessa forma, nossas afirmações
prescreverão as águas por
onde a embarcação de nossa vida deverá navegar.
Com
freqüência,
escolhemos, avaliamos e emitimos opiniões e,
conseqüentemente, atraímos tudo
aquilo que irradiamos. A psicologia diz que uma parte
considerável desses
pensamentos e experiências, os quais usamos para julgar e emitir
pareceres,
acontece de modo automático, ou seja, através de
mecanismos não perceptíveis.
É quase inconsciente para a nossa casa mental o que escolhemos
ou opinamos,
pois, sem nos dar conta, acreditamos estar usando o nosso
“arbítrio”, mas, na
verdade, estamos optando por um julgamento predeterminado e
estabelecido por
“arquivos que registram tudo o que nos ensinaram a respeito
do que deveríamos
fazer ou não, sobre tudo que é errado ou certo.
Poder-se-á
dizer
que um comportamento é completamente livre para eleger um
conceito eficaz
somente quando as decisões não estão confinadas a
padrões mentais rígidos e
inflexíveis, não estão estruturadas em conceitos
preconceituosos e não estão
alicerçadas em idéias ou situações
semelhantes que foram vivenciadas no
passado.
Nossos
julgamentos serão sempre os motivos de nossa liberdade ou
de nossa prisão no
processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.
Se criaturas
afirmarem “idosos não têm direito ao amor”,
limitando o romance só para os
jovens, elas estarão condenando-se a uma velhice de
descontentamento e solidão
afetiva, desprovida de vitalidade.
Se
pessoas declararem “homossexualidade é
abominável” e, ao longo do tempo, se confrontarem
com filhos, netos, parentes e amigos que têm algum impulso
homossexual, suas
medidas estarão estabelecidas pelo ódio e pela
repugnância a esses mesmos entes
queridos.
Se
indivíduos decretarem ‘jovens não casam com
idosos”, estarão circunscrevendo as
afinidades espirituais a faixas etárias e demarcando suas
afetividades a
padrões bem estreitos e apertados quanto a seus relacionamentos.
Se alguém
subestimar e ironizar “o desajuste emocional dos outros”,
poderá, em breve
tempo, deparar-se em sua própria existência com
perplexidades emocionais ou
dilemas mentais que o farão esconder-se, a fim de não ser
ridicularizado e
inferiorizado, como julgou os outros anteriormente.
Se formos
juízes da “moral ideológica” e
“sentimental”, sentenciando veementemente o que
consideramos como “erros alheios”, estaremos nos condenando
ao isolamento
intelectual, bem como ao afetivo, pela própria
detenção que impusemos aos
outros, por não deixarmos que eles se lançassem a novas
idéias e novas
simpatias.
“Não
julgueis, a fim de que não sejais julgados”, ou
mesmo, “se servirá para
convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles”,
quer dizer,
alertemo-nos quanto a tudo aquilo que afirmamos julgando, pois no
“auditório da
vida” todos somos “atores” e “escritores”
e, ao mesmo tempo, “ouvintes” e
“espectadores” de nossos próprios discursos, feitos
e atitudes.
Para
sermos livres realmente e para nos movermos em qualquer
direção com vista à
nossa evolução e crescimento como seres eternos, é
necessário observarmos e
concatenarmos nossos “pesos” e “medidas”,
a fim de que não venhamos a sofrer
constrangimento pela conduta infeliz que adotarmos na vida em forma de
censuras
e condenações diversas.
Subscribe by Email
Follow Updates Articles from This Blog via Email
No Comments