sábado, 30 de junho de 2012

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TEMPOS DE IGNORANCIA



Tempos da Ignorância

       “... Muito se pedirá àquele a quem se tiver muito dado, e se fará prestar maiores contas àqueles a quem se tiver confiado mais coisas.
       “... Somos nós, pois, também cegos? Jesus lhes respondeu: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis que vedes e é por isso que vosso pecado permanece em vós.”
(Capítulo18, itens 10 e 11.)

       Lucas relata em Atos dos Apóstolos a seguinte orienta­ção de Paulo de Tarso: “Deus não leva em conta os tempos da ignorância”. (1) Em outras oportunidades, confirmou também que “muito se pedirá àquele que muito recebeu”. (2) quer dizer, o agrava­mento das faltas é proporcional ao conhecimento que se possui.
       Compreendemos, dessa forma, que somos todos nós pro­tegidos pela nossa “ignorância”, pois somente seremos avaliados pela Divina Providência, de conformidade com as possibilidades do “saber” e “sentir”, isto é, segundo a nossa maneira de ver a nós próprios e o mundo que nos rodeia.
       As leis espirituais que dirigem a vida são sábias e justas e adaptam-se particularmente a cada criatura, levando em conta suas individualidades.
       O eminente psicólogo e pedagogo suíço Jean Piaget, responsável pela teoria de que o desenvolvimento das crianças propicia seu aprendizado, dizia que elas são diferentes entre si, que cada uma tem seu jeito de crescer e de se realizar como indivíduo, e que todos poderíamos ajudá-las nesse crescimento, porém nunca impondo formas generalizadas e semelhantes.
       Piaget ensinava que cada criança pensa e interpreta o mundo com seu peculiar pensamento e com suas possibilidades orgânicas e mentais, quase sempre heterogêneas.
Encontramos no mundo atual modernos métodos peda­gógicos que seguem esse raciocínio, levando em conta que cada indivíduo, para assimilar sua realidade de vida, é portador de um processo psicológico de aprendizagem próprio. Cada um percebe de forma dissemelhante os estímulos da Vida, decodifica-os e em seguida os reelabora, formando assim sua própria individualidade.
Por outro lado, encontramos também na reencarnação a guarida desses métodos de ensino, pois ela se baseia na multiplici­dade de experiências ocorridas nos diversos avatares por onde a alma percorre seus caminhos vivenciais, como um ser individual. As diversidades do nosso tempo de criação, nossas heranças reencarnatórias, experiências emocionais e mentais, ambientes sociais onde ocorrem essas mesmas experiências, estruturas se­xuais, masculinas ou femininas, e motivações várias desenvolvidas na atualidade particularizam os seres humanos com vocações, tendências, interesses, grau de raciocínio e discernimento “sui generis”.
Relativos e não generalizados devem ser os modos de ver as coisas e as pessoas. O próprio direito penal classifica e pune os crimes dentro dos padrões do “intencional” ou “doloso”, “pas­sional” ou “ocasional”. Por que o Poder Inteligente que nos rege iria julgar-nos sem levar em conta nosso “tempo da ignorância” e nossa relatividade?
Como educar ou avaliar genericamente, usando o mesmo critério, crianças que receberam uma educação cheia de energia e vida, ensinadas a questionar e criar; a ter curiosidade e admira­ção pela natureza; e outras que só vivenciaram discussões, agres­sões e comportamentos medíocres por entre odores de bebidas alcoólicas e nicotina, sem uma visão saudável de Deus; ao contrário, temerosa, distorcida, adquirida através da crença de um ser amea­çador e temperamental?
O Amor de Deus programou-nos simples inicialmente para permitir que nos desenvolvêssemos, de forma gradativa, até atingir maiores plenitudes e totalidades.
Temos, pois, que seguir essa programação da Natureza, ou seja, caminhar dentro desse projeto estabelecido pelas leis uni­versais para atingirmos a nossa integração como seres espirituais.
Esse processo evolucional nos mostra que podemos estar um pouco atrás, ou adiante, das criaturas, embora cada uma delas tenha suas características próprias e certas de acordo com sua idade astral. Nesse decurso evolutivo, todos nós passamos por fases de egoísmo e orgulho até atingirmos mais tarde as grandes virtudes da alma. Consideremos, portanto, que não seremos censurados por estar nessas fases “primitivas”, porque o que chamamos de “de­feito” ou “inferioridade” seja, talvez, a passagem por esses ciclos iniciantes onde estagiamos. Lembremos que essas “fases” ou “ci­clos” não foram criados por nós, mas pelos desígnios de Deus, que regem a Natureza como um todo.
Coisas inadequadas que vemos em outras pessoas po­dem ser naturais nelas, ou mesmo do “tempo da sua ignorân­cia”, e representam características próprias de sua etapa evolu­cional na estrada por onde todos transitamos, alguns mais avan­çados e outros na retaguarda.
A vida moderna nos deu raciocínio e reflexão, maturação intelectual e um desenrolar de novas descobertas, ensinando-nos formulações racionais surpreendentes para que melhor pudéssemos compreender os métodos de evolução e progresso em nós mesmos e no Universo.
Não somos responsáveis por aquilo que não sabemos, não sofreremos um castigo por atos ou atitudes que ignoramos. Talvez essas idéias de punição, alienatórias, sejam os frutos da incapacidade de nossa reflexão sobre a Bondade Divina, O que chamamos de “sofrimento” é simplesmente “resultado” de nossa falta de habilidade para desenvolver as coisas corretamente, pois na vida não existem “prêmios” nem “castigos”, somente as conse­qüências dos nossos atos.
Vale, porém, considerar que, à medida que nossa cons­ciência se expande e maior lucidez se faz em nossa mente, maiores serão nossos compromissos perante a existência. “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas agora dizeis que vedes e é por isso que vosso pecado permanece em vós”. (3)
Podemos pretextar ignorância, mas se tivermos consciên­cia de nossos feitos isso sempre será levado em conta.
Avaliemos atentamente: os tesouros da alma que já inte­gramos nos obrigarão a prestar maiores ou menores contas perante a Vida Maior.

(1) Atos 17:30.
(2) Lucas 12:48.
(3) João 9:41.

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a parabola dos talentos


A PARÁBOLA DOS TALENTOS

(Mateus, capítulo 25º, versículos 14 a 30)

       Certa vez, um homem rico, grande proprietário, teve necessidade de deixar sua pátria e viajar pôr outros paises.
       Chamou, então, seus servidores de confiança e lhes entregou seus bens, a fim de que negociassem com as quantias que lhes eram entregues.
       Ao primeiro servo deu cinco talentos (*), que cor­respondem em nossa moeda a mais de cem mil cru­zeiros. Ao segundo entregou dois talentos e ao tercei­ro, um talento.
       Ele fez essa distribuição de acordo com a capa­cidade de cada servidor. E depois seguiu para via­gem.
       O primeiro foi imediatamente negociar com os talentos e, nos vários negócios que fez, conseguiu ganhar outros cinco talentos.
       O segundo fez o mesmo e conseguiu de lucro mais de 40 mil cruzeiros (isto é, outros dois talentos).
       O terceiro servidor, porém, em lugar de multi­plicar seu dinheiro realizando negócios, como os outros dois, saiu da casa do senhor e foi para sua residência. E, no fundo do quintal, enterrou a moeda de ouro que o grande proprietário lhe havia passado às mãos.
       Decorrido algum tempo, o senhor voltou do estrangeiro para sua pátria. Chegando a casa, chamou aqueles servidores para ajustar contas com eles.
       Compareceu o primeiro à presença do seu amo. E falou:
— Senhor, entregaste-me cinco talentos. Nego­ciei com eles, como ordenaste, e consegui multiplica-­los com meu trabalho honesto, conseguindo outros cinco. Aqui estão, meu senhor, os dez talentos que te pertencem.
Disse-lhe o proprietário, em resposta:
— Muito bem, servo bom e fiel. Já que foste fiel no pouco que te confiei, de agora em diante eu te confiarei negócios maiores e mais importantes. Estarás sempre comigo, ao meu lado, e gozarás da minha felicidade e bem-estar.
Chegou o segundo servidor e disse também:
Senhor, entregaste-me dois talentos. Também negociei com eles, como mandaste e consegui multi­plicá-los igualmente, com meu esforço honesto, con­seguindo outros dois. Aqui estão, meu senhor, os quatro talentos que te pertencem.
— Muito bem, servo bom e fiel. Já que foste fiel no pouco que te confiei, de agora em diante eu te confiarei também negócios maiores e mais importan­tes. Estarás ao meu lado, sempre comigo, e gozarás também, como teu companheiro, da minha felicidade e bem-estar.
Chegou, por fim, o terceiro servidor, que havia recebido um só talento. E disse ao seu patrão:
— Senhor, eu te conhecia e sempre soube que és um homem duro e severo, que gostas de colher onde não semeastes e recolhes o trabalho dos outros. Por isso, tive medo de ti e de tua justiça. E, por medo, escondi o teu talento na terra Mas, hoje desenterrei tua moeda. Aqui está, senhor, o que te pertence.
O proprietário, porém, lhe respondeu:
— Servo mau e preguiçoso, por que me ofendes assim? Por que imaginas que eu gosto de colher onde não semeei e me agrada explorar o trabalho alheio? Se assim julgavas, por que não puseste, pelo menos, o dinheiro no banco, para render juros, já que não querias multiplicá-lo com teu trabalho?
E chamando outros servidores de sua casa, con­tinuou:
— Tirai-lhe o talento e dai-o ao que tem dez ta­lentos. A todo aquele que tem ainda, mais se dá e ele terá em abundância; mas , ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Lançai o servidor inútil fora do meu palácio, onde há lágrimas, fome e revolta, sem as alegrias que provém do trabalho honesto e fiel.


Esta parábola, filhinho, é uma imagem do Reino de Deus. Nesse Reino, que abrange o Universo in­teiro, cada alma, por mais pobre e pequenina que seja, tem uma determinada tarefa ou missão.
Deus dá a cada um de nós (pai, mãe, jovem ou criança) uma tarefa, maior ou menor, segundo a ca­pacidade de cada alma. Isso é o que significa a dis­tribuição diferente dos talentos (um recebeu 5, outro recebeu 2, outro — 1). Mas, Deus quer que nós multi­pliquemos os nossos talentos e não que os enterre­mos, como fez o servidor preguiçoso, que mereceu também o qualificativo de mau.
Nossos talentos, filhinho, são as possibilidades que toda alma possui de fazer algum bem no mundo. Você também recebeu de Deuscinco, ou dois, ou um talento, isto é, você pode fazer algum bem neste mun­do: ajudando seus paizinhos, sendo amigo de seus maninhos, sendo prestativo e bondoso para seus co­legas, fazendo algum serviço na Escola de Evange­lho, auxiliando, conforme suas posses, os pobrezi­nhos, os órfãos, os tristes... Há tantas almas sofre­doras e necessitadas no mundo, meu filho!...
Os seus talentos são o seu conhecimento, a sua bondade, o seu dinheirinho do lar, a sua boa vontade para ajudar a quem sabe ou pode menos que você. Tudo que você possui ou sabe é um talento que Deus confiou a ti, a fim de que seu coração e sua inteligên­cia o multipliquem em favor dos pobres, dos sofredores e dos necessitados do mundo.
       Não imite o terceiro servidor, querida criança, que enterrou seu talento. Não negue sua coopera­ção, quando puder prestar um favor. Não deixe de ajudar a mamãezinha nos serviços domésticos. Não negue um auxílio honesto a um colega de estudo. Não gaste todo o seu dinheirinho em gulodices, mas, lembre-se dos orfãozinhos, dos pobres, dos doentes e comece a socorrê-los com suas moedinhas. Existem mil pequeninos serviços de bondade e de delicadeza, mil pequenas tarefas de caridade e de compaixão que você pode realizar na vida, cumprindo sua missão de ovelhinha de Jesus. Não enterre seus talentos, sim?
       Se você cumprir seu dever de trabalhar no bem, nas pequeninas coisas, creia que a Parábola se cum­prirá na sua vida: o Senhor Jesus confiará à sua alma tarefa maiores no Seu Reino e você gozará de Sua Perfeita Alegria, na grande felicidade de traba­lhar com Ele em favor da regeneração de nosso mundo.
       Pode crer, filhinho, que não existe felicidade maior do que esta.

(*) O talento, como já vimos na Parábola do Credor Incompassivo, era uma moeda que valia mais ou menos 20.000 (vinte mil) cruzeiros.

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ajuda e passa




Ajuda e passa

Estende a mão fraterna ao que ri e ao que chora:
O palácio e a choupana, o ninho e a sepultura,
Tudo o que vibra espera a luz que resplendora,
Na eterna lei de amor que consagra a criatura.

Planta a bênção da paz, como raios de aurora,
Nas trevas do ladrão, na dor da alma perjura;
Irradia o perdão e atende, mundo afora,
Onde clame a revolta e onde exista a amargura.

Agora, hoje e amanhã, compreende, ajuda e passa;
Esclarece a alegria e consola a desgraça,
Guarda o anseio do bem que é lume peregrino...

Não troques mal por mal, foge à sombra e à vingança,
Não te aflija a miséria, arrima-te à esperança.
Seja a bênção de amor a luz do teu destino.ALBERTO DE OLIVEIRA

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Carta ligeira


ALFREDO NORA


       ALFREDO José dos Santos Nora nasceu em 18 de novembro de 1881, no município de Piraí, Estado do Rio, e desencarnou em 13 de no­vembro de 1948. Depois de estudar Engenharia até ao 4º ano do curso, tornou-se funcionário da Central do Brasil, aposentando-se como Agente de 1ª classe. Poeta e jornalista, colaborou em várias revistas e jornais.

Carta ligeira

Meu Lasneau, não é bilhete,
Não é oficio, nem ata.
É o coração que desata
Meus pesares num lembrete.
1
Lasneau amigo, esta choça,
Onde a carne, breve, passa,
Cheia de lama e fumaça,
É minúscula palhoça.

A Terra, ante o sol da Graça,
É feio talhão de roça,
Detendo por balda nossa
Descrença, guerra e cachaça.

Agora é que entendo isso,
Mas é triste a fé sem viço
Que o sepulcro impõe à pressa...

Espere sem alvoroço,
Além da prisão de osso,
A vida real começa.
2
Oh! meu caro, se eu pudesse
Dizer tudo o que não disse,
Sem a velha esquisitice
Que inda agora me entontece!

Entretanto, é clara a messe
Da sementeira de asnice.
Perdi tempo em maluquice
E o tempo me desconhece.

É natural que padeça
A minha pobre cabeça
Perante a Luz, face a face.

Não me olvide em sua prece,
Desejo que a luta cesse,
Que a coisa melhore e... passe.

sábado, 23 de junho de 2012

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Contigo mesmo


Contigo mesmo

       “... O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos...”
(Capítulo 17, item 7.)

Como decifrar o dever? De que maneira observar o dever íntimo impresso na consciência, diante de tantos deveres sociais, profissionais e afetivos que muitas vezes nos impõem caminhos divergentes?
Efetivamente, nasceste e cresceste apenas para ser único no mundo. Em lugar algum existe alguém igual a tua maneira de ser; portanto, não podes perder de vista essa verdade, para encontrar o dever que te compete diante da vida.
Teu primordial compromisso é contigo mesmo, e tua tare­fa mais importante na Terra, para a qual és o único preparado, édesenvolver tua individualidade no transcorrer de tua longa jor­nada evolutiva.
A preocupação com os deveres alheios provoca teu distan­ciamento das próprias responsabilidades, pois não concretizas teus ideais nem deixas que os outros cumpram com suas funções. Não nos referimos aqui à ajuda real, que é sempre importante, mas àintromissão nas competências do próximo, impedindo-o de adquirir autonomia e vida própria.
Assumir deveres dos outros é sabotar os relacionamentos que poderiam ser prósperos e duradouros. Por não compreenderes bem teu interior, é que te comparas aos outros, esquecendo-te de que nenhum de nós está predestinado a receber, ao mesmo tempo, os mesmos ensinamentos e a fazer as mesmas coisas, pois existem inúmeras formas de viver e de evoluir. Lembra-te de que deves importar-te somente com a tua maneira de ser.
Não podemos nos esquecer de que aquele que se compara com os outros acaba se sentindo elevado ou rebaixado. Nunca se dá o devido valor e nunca se conhece verdadeiramente.
Teus empenhos íntimos deverão ser voltados apenas para tua pessoa, e nunca deverás tentar acomodar pontos de vista diversos, porque, além de te perderes, não ajustarás os limites onde começa a ameaça à tua felicidade, ou à felicidade do teu próximo.
Muitos acreditam que seus deveres são corrigir e reprimir as atitudes alheias. Vivem em constantes flutuações existenciais por não saberem esperar o fluxo da vida agir naturalmente.
Asseveram sempre que suas obrigações são em “nome da salvação” e, dessa forma, controlam as coisas ou as forçam acontecer, quando e como querem.
Dizem: “Fazemos isso porque só estamos tentando ajudar”. Forçam eventos, escrevem roteiros, fazem o que for necessário para garantir que os atores e as cenas tenham o desempenho e o desenlace que determinaram e acreditam, insistentemente, que seu dever é salvar almas, não percebendo que só podem salvar a si próprios.
Nosso dever é redescobrir o que é verdadeiro para nós e não esconder nossos sentimentos de qualquer pessoa ou de nós mesmos, mas sim ter liberdade e segurança em nossas relações pessoais, para decidirmos seguir na direção que escolhemos. Não “devemos” ser o que nossos pais ou a sociedade querem nos impor ou definir como melhor. Precisamos compreender que nossos objetivos e finalidades de vida têm valor unicamente para nós; os dos outros, particularmente para eles.
Obrigação pode ser conceituada como sendo o que deve­ríamos fazer para agradar as pessoas, ou para nos enquadrar no que elas esperam de nós; jáo dever é um processo de auscultar a nós mesmos, descortinando nossa estrada interior, para, logo após, materializá-la num processo lento e constante.
Ao decifrarmos nosso real dever, uma sensação de auto-realização toma conta de nossa atmosfera espiritual, e passamos a apreciar os verdadeiros e fundamentais valores da vida, associados a um prazer inexplicável.
Lembremo-nos da afirmação do espírito Lázaro em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “O dever é a obrigação moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em seguida”. (1)
 
(1) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 17º, item 7.
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SER FELIZ



               
Ser Feliz

       “... Assim, pois, aqueles que pregam ser a Terra a única morada do homem, e que só nela, e numa só existên­cia, lhe é permitido atingir o mais alto grau das felicidades que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam aqueles que os escutam...”
(Capítulo 5, item 20.)

       As estradas que nos levam à felicidade fazem parte de um método gradual de crescimento íntimo cuja prática só pode ser exercitada pausadamente, pois a verdadeira fórmula da felicidade é a realização de um constante trabalho interior.
       Ser feliz não é uma questão de circunstância, de estarmos sozinhos ou acompanhados pelos outros, porém de uma atitude comportamental em face das tarefas que viemos desempenhar na Terra.
       Nosso principal objetivo é progredir espiritualmente e, ao mesmo tempo, tomar consciência de que os momentos felizes ou infelizes de nossa vida são o resultado direto de atitudes distorcidas ou não, vivenciadas ao longo do nosso caminho.
       No entanto, por acreditarmos que cabe unicamente a nós a responsabilidade pela felicidade dos outros, acabamos nos esquecendo de nós mesmos. Como conseqüência, não ad­ministramos, não dirigimos e não conduzimos nossos próprios passos. Tomamos como jugo deveres que não são nossos e assumimos compromissos que pertencem ao livre-arbítrio dos outros. O nosso erro começa quando zelamos pelas outras pes­soas e as protegemos, deixando de segurar as rédeas de nossas decisões e de nossos caminhos.
Construímos castelos no ar, sonhamos e sonhamos irrealidades, convertemos em mito a verdade e, por entre ilusões românticas, investimos toda a nossa felicidade em relacionamentos cheios de expectativas coloridas, condenando-nos sempre a decepções crônicas.
Ninguém pode nos fazer felizes ou infelizes, somente nós mesmos é que regemos o nosso destino. Assim sendo, sucessos ou fracassos são subprodutos de nossas atitudes construtivas ou destrutivas.
A destinação do ser humano é ser feliz, pois todos fomos criados para desfrutar a felicidade como efetivo patrimônio e direito natural.
O ser psicológico está fadado a uma realização de plena alegria, mas por enquanto a completa satisfação é de poucos, ou seja, somente daqueles que já descobriram que não é necessário compreender como os outros percebem a vida, mas sim como nós a percebemos, conscientizando-nos de que cada criatura tem uma maneira única de ser feliz. Para sentir as primeiras ondas do gosto de viver, basta aceitar que cada ser humano tem um ponto de vista que é válido, conforme sua idade espiritual.
Para ser feliz, basta entender que a felicidade dos outros étambém a nossa felicidade, porque todos somos filhos de Deus, estamos todos sob a Proteção Divina e formamos um único re­banho, do qual, conforme as afirmações evangélicas, nenhuma ovelha se perderá.
É sempre fácil demais culparmos um cônjuge, um amigo ou uma situação pela insatisfação de nossa alma, porque pensa­mos que, se os outros se comportassem de acordo com nossos planos e objetivos, tudo seria invariavelmente perfeito. Esque­cemos, porém, que o controle absoluto sobre as criaturas não nos é vantajoso e nem mesmo possível. A felicidade dispensa rótulos, e nosso mundo seria mais repleto de momentos agradáveis se olhássemos as pessoas sem limitações preconceituosas, se a nossa forma de pensar ocorresse de modo independente e se avaliássemos cada indivíduo como uma pessoa singular e distinta.
Nossa felicidade baseia-se numa adaptação satisfatória ànossa vida social, familiar, psíquica e espiritual, bem como numa capacidade de ajustamento às diversas situações vivenciais.
Felicidade não é simplesmente a realização de todos os nossos desejos; é antes a noção de que podemos nos satisfazer com nossas reais possibilidades.
Em face de todas essas conjunturas e de outras tantas que não se fizeram objeto de nossas presentes reflexões, considera­mos que o trabalho interior que produz felicidade não é, obvia­mente, meta de uma curta etapa, mas um longo processo que levará muitas existências, através da Eternidade, nas muitas mo­radas da Casa do PAI
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Tua medida


* A presente citação e todas as demais que iniciam cada capítulo foram extraídas de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec. (Nota do autor espiritual.)
(1) Romanos, 2:1
Tua medida

       “Não julgueis, afim de que não sejais julgados, porque vós sereis julgados segundo houverdes julgado os outros, e se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles.”
(Capítulo 10, item 11)*

       Toda opinião ou juízo que desenvolvemos no presente está intimamente ligado a fatos antecedentes.
       Quase sempre, todos estamos vinculados a fatores de situações pretéritas, que incluem atitudes de defesa, negações ou mesmo inúmeras distorções de certos aspectos importantes da vida. Tendências ou pensamentos julgadores estão sedimentados em nossa memória profunda, são subprodutos de uma série de conhecimen­tos que adquirimos na idade infantil e também através das vivências pregressas.
       Censuras, observações, admoestações, superstições, pre­conceitos, opiniões, informações e influências do meio, inclusive de instituições diversas, formaram em nós um tipo de “reservatório moral” - coleção de regras e preceitos a ser rigorosamente cum­pridos -, do qual nos servimos para concluir e catalogar as atitudes em boas ou más.
       Nossa concepção ético-moral está baseada na noção adquirida em nossas experiências domésticas, sociais e religiosas, das quais nos servimos para emitir opiniões ou pontos de vista, a fim de harmonizarmos e resguardarmos tudo aquilo em que acreditamos como sendo “verdades absolutas”. Em outras palavras, como forma de defender e proteger nossos “valores sagrados”, isto é, nossas aquisições mais fortes e poderosas, que nos servem como forma de sustentação.
Em razão disso, os freqüentes julgamentos que fazemos em relação às outras pessoas nos informam sobre tudo aquilo que temos por dentro. Explicando melhor, a “forma” e o “material” utilizados para sentenciar os outros residem dentro de nós.
Melhor do que medir ou apontar o comportamento de alguém seria tomarmos a decisão de visualizar bem fundo nossa intimidade, e nos perguntarmos onde está tudo isso em nós. Os indivíduos podem ser considerados, nesses casos, excelente espe­lho, no qual veremos quem somos realmente. Ao mesmo tempo, teremos uma ótima oportunidade de nos transformar intimamente, pois estaremos analisando as características gerais de nossos conceitos e atitudes inadequados.
Só poderemos nos reabilitar ou reformar até onde con­seguimos nos perceber; ou seja, aquilo que não está consciente em nós dificilmente conseguiremos reparar ou modificar.
Quando não enxergamos a nós mesmos, nossos compor­tamentos perante os outros não são totalmente livres para que pos­samos fazer escolhas ou emitir opiniões. Estamos amarrados a for­mas de avaliação, estruturadas nos mecanismos de defesa - proces­sos mentais inconscientes que possibilitam ao indivíduo manter sua integridade psicológica através de uma forma de “auto-engano.”
Certas pessoas, simplesmente por não conseguirem conviver com a verdade, tentam sufocar ou enclausurar seus sentimentos e emoções, disfarçando-os no inconsciente.
Em todo comportamento humano existe uma lógica, isto é, uma maneira particular de raciocinar sobre sua verdade; portanto, julgar, medir e sentenciar os outros, não se levando em conta suas realidades, mesmo sendo consideradas preconceituosas, neuróticas ou psicóticas, é não ter bom senso ou racionalidade, pois na vida somente é válido e possível o “autojulgamento”.
Não obstante, cada ser humano descobre suas próprias formas de encarar a vida e tende a usar suas oportunidades vivenciais, para tornar-se tudo aquilo que o leva a ser um “eu individualizado”.
Devemos reavaliar nossas idéias retrógradas, que estreitam nossa personalidade, e, a partir daí, julgar os indivíduos de forma não generalizada, apreciando suas singularidades, pois cada pessoa tem uma consciência própria e diversificada das outras tantas consciências.
Julgar uma ação é diferente de julgar a criatura. Posso julgar e considerar a prostituição moralmente errada, mas não posso e não devo julgar a pessoa prostituída. Ao usarmos da empatia, colocando-nos no lugar do outro, “sentindo e pensando com ele”, em vez de “pensar a respeito dele”, teremos o comportamento ideal diante dos atos e atitudes das pessoas.
Segundo Paulo de Tarso, “é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento”. (1)
Essencialmente, tudo aquilo que decretamos ou sentenciamos tornar-se-á nossa “real medida”: como iremos viver com nós mesmos e com os outros.
O ser humano é um verdadeiro campo magnético, atraindo pessoas e situações, as quais se sintonizam amorosamente com seu mundo mental, ou mesmo de forma antipática com sua maneira de ser. Dessa forma, nossas afirmações prescreverão as águas por onde a embarcação de nossa vida deverá navegar.
Com freqüência, escolhemos, avaliamos e emitimos opi­niões e, conseqüentemente, atraímos tudo aquilo que irradiamos. A psicologia diz que uma parte considerável desses pensamentos e experiências, os quais usamos para julgar e emitir pareceres, acon­tece de modo automático, ou seja, através de mecanismos não per­ceptíveis. É quase inconsciente para a nossa casa mental o que escolhemos ou opinamos, pois, sem nos dar conta, acreditamos estar usando o nosso “arbítrio”, mas, na verdade, estamos optan­do por um julgamento predeterminado e estabelecido por “arqui­vos que registram tudo o que nos ensinaram a respeito do que deveríamos fazer ou não, sobre tudo que é errado ou certo.
Poder-se-á dizer que um comportamento é completamente livre para eleger um conceito eficaz somente quando as decisões não estão confinadas a padrões mentais rígidos e inflexíveis, não estão estruturadas em conceitos preconceituosos e não estão alicerçadas em idéias ou situações semelhantes que foram vivenciadas no passado.
Nossos julgamentos serão sempre os motivos de nossa li­berdade ou de nossa prisão no processo de desenvolvimento e crescimento espiritual.  
Se criaturas afirmarem “idosos não têm direito ao amor”, limitando o romance só para os jovens, elas estarão condenando-se a uma velhice de descontentamento e solidão afetiva, desprovida de vitalidade.
Se pessoas declararem “homossexualidade é abominável” e, ao longo do tempo, se confrontarem com filhos, netos, parentes e amigos que têm algum impulso homossexual, suas medidas estarão estabelecidas pelo ódio e pela repugnância a esses mesmos entes queridos.
Se indivíduos decretarem ‘jovens não casam com idosos”, estarão circunscrevendo as afinidades espirituais a faixas etárias e demarcando suas afetividades a padrões bem estreitos e apertados quanto a seus relacionamentos.
Se alguém subestimar e ironizar “o desajuste emocional dos outros”, poderá, em breve tempo, deparar-se em sua própria existência com perplexidades emocionais ou dilemas mentais que o farão esconder-se, a fim de não ser ridicularizado e inferiorizado, como julgou os outros anteriormente.
Se formos juízes da “moral ideológica” e “sentimental”, sen­tenciando veementemente o que consideramos como “erros alheios”, estaremos nos condenando ao isolamento intelectual, bem como ao afetivo, pela própria detenção que impusemos aos outros, por não deixarmos que eles se lançassem a novas idéias e novas simpatias.
“Não julgueis, a fim de que não sejais julgados”, ou mes­mo, “se servirá para convosco da mesma medida da qual vos servistes para com eles”, quer dizer, alertemo-nos quanto a tudo aquilo que afirmamos julgando, pois no “auditório da vida” todos somos “atores” e “escritores” e, ao mesmo tempo, “ouvintes” e “espectadores” de nossos próprios discursos, feitos e atitudes.
Para sermos livres realmente e para nos movermos em qualquer direção com vista à nossa evolução e crescimento como seres eternos, é necessário observarmos e concatenarmos nos­sos “pesos” e “medidas”, a fim de que não venhamos a sofrer constrangimento pela conduta infeliz que adotarmos na vida em forma de censuras e condenações diversas.
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A PARABOLA DO BOM SAMARITANO


(Lucas, capítulo 10º, versículos 25 a 37)

       Um dia, um pobre homem descia da cidade de Jerusalém para uma outra cidade, Jericó, a trinta e três quilômetros daquela capital, no vale do Rio Jordão.
       A estrada era cheia de curvas. Nela havia mui­tos penhascos, em cujas grutas era comum se refu­giarem os salteadores de estradas, que naquele tem­po eram muitos e perigosos.
       O pobre viajante foi assaltado pelos ladrões. Os salteadores usaram de muita maldade, pois, além de roubarem tudo o que o pobre homem trazia, ainda o espancaram com muita violência, deixando-o quase morto no caminho.
       Logo depois do criminoso assalto, passou por aquele mesmo lugar um sacerdote do Templo de Sa­lomão. Esse sacerdote vinha de Jerusalém, onde pos­sivelmente terminara seus serviços religiosos, e se dirigia também para Jericô. Viu o pobre viajante caido na estrada, ferido, meio morto. Não se deteve, porém, para socorrê-lo. Não teve compaixão do pobre ferido, abandonado no chão da estrada. Apesar dos seus conhecimentos da Lei de Deus, era um homem de coração muito frio. Por isso, continuou sua viagem, descendo a montanha, indiferente aos sofri­mentos do infeliz...
       Instantes depois, passa também pelo mesmo lu­gar um levita. Os levitas eram auxiliares do culto religioso do Templo. Esse levita não procedeu melhor do que o sacerdote. Também conhecia a Lei de Deus, mas, na sua alma não havia bondade e ele fez o mesmo que o padre, seu chefe. Viu o ferido e passou de largo.
       Uma terceira pessoa passa pelo mesmo lugar. Era um samaritano, que igualmente vinha de Jeru­salém. Viu também o infeliz ferido da estrada, mas, não procedeu com: o sacerdote e o levita. O bom samaritano desceu do seu animal, aproximou-se do pobre judeu e se encheu de grande compaixão, quan­do o contemplou de perto, com as vestes rasgadas e sangrentas e o corpo ferido pelas pancadas que rece­bera.
Imediatamente, o bondoso samaritano retirou do seu saco de viagem duas pequenas vasilhas. Uma era de vinho, com ele desinfetou as feridas do pobre homem; outra, de azeite, com que lhe aliviou as do­res. Atou-lhe os ferimentos e levantou o desconhe­cido, colocando-o no seu animal. Em seguida, condu­ziu-o para uma estalagem próxima e cuidou dele co­mo carinhoso enfermeiro, durante toda a noite.
Na manhã seguinte, tendo de continuar sua viagem, chamou o dono do pequeno hotel, entregou-lhe dois denários (*) e recomendou-lhe que cuidasse bem do pobre ferido:
— Tem cuidado com o pobre homem. Se gastares alguma coisa além deste dinheiro que te deixo, eu te pagarei tudo quando voltar.
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A PARÁBOLA DO SEMEADOR




A PARÁBOLA DO SEMEADOR

(Mateus, capítulo 13º, versículos 1 a 9, e 18, a 23)
      
       Um semeador, como fazia todos os dias, saiu de casa e se dirigiu ao seu campo para nele semear os grãos de trigo que possuía, honrando a Deus com seu trabalho honesto.
       Começou a semeadura. Enquanto lançava as se-mentes ao campo, algumas caíram no caminho, na pequena estrada que ficava no meio da seara. Você sabe que os passarinhos costumam acompanhár os semeadores ao campo, para comer as sementes que caem ao chão? Pois, isso aconteceu em nossa histó­ria. Alguns grãos caíram à beira da estrada, e os passarinhos, rápidos, desceram e os comeram.
       O semeador, porém, continuou semeando. Outras sementes caíram num lugar pedregoso. Havia ali muitas pedras e pouca terra. As sementes nasceram logo naquele solo, que não era profundo. O trigo cresceu depressa, mas, vindo o sol forte, foi quei­mado; e como suas raízes não cresceram por causa das pedras, murchou e morreu.
       Outros grãos caíram num pedaço do campo onde havia muitos espinheiros. Quando o trigo cresceu, foi sufocado pelos espinhos e também morreu.
       Uma última parte das sementes caiu numa terra boa e preparada, longe dos pedregulhos e das sarças.
       E o trigo ali semeado deu uma colheita farta. Cada grão produziu outros cem, outros sessenta ou outros trinta...
       O próprio Jesus explicou a Seus discípulos a Pa­rábola do Semeador.
       As nossas almas, filhinho, são comparáveis aos quatro terrenos da história: “o terreno do caminho”, “o solo cheio de pedras”, “a terra cheia de espinhei­ros e “o terreno lavrado e bom
Jesus é o Divino Semeador. A semente é a Sua Palavra de bondade e de sabedoria. E os diversos terrenos são os nossos corações, os nossos Espíritos, onde Ele semeia Seus ensinamentos, cheio de bon­dade para conosco.
E como procedemos para com Jesus? Como res­pondemos à Sua bondade? O modo como damos res­posta ao amor cuidadoso do Divino Mestre é que nos classifica espiritualmente, isto é, mostra que espécie de terreno existe em nossa alma. Cada coração hu­mano é uma espécie de terra, um dos quatro solos da parábola.
Vejamos, então, filhinho:
Quando alguém ouve a palavra do Evangelho e não procura compreendê-la, nem lhe dá valor, apare­cem as forças do mal (os Espíritos maldosos, desen­carnados ou encarnados) e arrebatam o que foi se­meado no seu coração, tais como os passarinhos co­meram as sementes... E sabe de que modo? Fazendo com que a alma esqueça o que ouviu, dando outros pensamentos à pessoa, fazendo com que ela se desin­teresse das coisas espirituais. E a alma fica indi­ferente aos ensinamentos divinos. O coração dessa pessoa é semelhante ao “terreno do caminho”, onde a semente não chegou a penetrar. Um exemplo desse terreno é a criança que não presta atenção às aulas de Evangelho, ficando distraida durante as explica­ções. Ou ainda, a criança que não gosta de ler os livrinhos que ensinam o caminho de Jesus...
E o segundo terreno, o pedregoso?
Esse terreno é a imagem da pessoa que recebe os ensinos de Jesus com muita alegria. São exemplos as pessoas entusiasmadas com o serviço cristão, ou as crianças animadas nas escolas de Evangelho, mas cuja animação dura pouco. Quando surgem as zom­barias, as perseguições ou os sofrimentos, a alma, que é inconstante, abandona o caminho do Evan­gelho. Um exemplo para você, filhinho: uma criança está freqüentando as aulas de Moral Cristã numa Escola Espírita. Está aprendendo os mandamentos divinos, os ensinos de Cristo, o caminho do bem, da pureza, da honestidade. Está muito contente com o que está estudando. Sente-se animada e feliz. Um dia, aparece um colega do colégio ou da vizinhança, dizendo que o “Espiritismo é obra do demônio”, que “os que freqüentam aulas de Evangelho nas escolas Espíritas ficam loucos e vão para o inferno”. E zom­ba dele sempre que o encontra e lhe põe apelidos humilhantes. O nosso amiguinho não tem ainda fir­meza de fé. Tem medo das zombarias dos colegas e dos vizinhos, que dizem que “somente sua religião éverdadeira” e lhe mandam “receber Espíritos na rua”. Amedrontado pela perseguição e pelos mote­jos, o nosso irmãozinho deixa a Escola de Evange­lho, onde estava começando a compreender a beleza do ensino de Jesus e as bênçãos do Espiritismo Cristão. Esse menino tinha o coração semelhante ao “terreno cheio de pedras”, onde a planta da verdade não pôde crescer e frutificar.
       O terceiro solo é a “terra cheia de espinheiros “. É o caso das pessoas que recebem a palavra do Evan­gelho, mas, depois abandonam o caminho cristão por causa das grandezas falsas do mundo e da sedu­ção das riquezas. Ouviram o Evangelho, mas se inte­ressaram mais pelos negócios, pelos lucros, pelas vaidades da vida, pelo cuidado exclusivo das coisas da terra. Há também, no mundo das crianças, exem­plos desse terreno. São as crianças que conheceram, às vezes desde pequeninas, os ensinos de Jesus, mas, depois de crescidas, preferiram os maus companhei­ros, as crianças sem Deus, e passaram a interessar­-se somente pelos problemas de dinheiro ou de mo­das, pelos ídolos do cinema ou do futebol. Não querem mais nem Jesus, nem lições de Evangelho. Só pensam em automóveis de luxo, sonham com caminhões, imaginam-se ricos “quando crescerem”... A princípio, sabiam repartir com os pobres o seu di­nheirinho, porém, agora só pensam emjuntá-lo: acari­dade morreu nos seus corações. O mundo, com suas riquezas falsas (que terminam com a morte), seduziu suas almas e sufocou a plantinha de Deus em seus espíritos. Trocaram Jesus pelos sonhos e ambições de carros de luxo, de figurinos, de roupas elegantes, de campos de esporte, de concursos de beleza, de grandezas sociais... A plantinha de Deus foi sufoca­da pelos espinhos do egoísmo e das ilusões da vida material. E morreu...
       O quarto terreno, “a terra lavrada e boa, é o símbolo do coração que escuta o Evangelho, pro­curando compreendê-lo e praticá-lo na vida. E a alma que estuda a palavra do Senhor, percebendo que está neste mundo para aprender a Verdade e o Bem. E, assim, dá frutos de bondade e eleva-se para Deus. Abandona seus vícios e maus hábitos, dedicando-se à prática das virtudes, guardando a fé no coração, socorrendo carinhosamente os necessitados e sofredores e buscando os conselhos de Deus no Evangelho de Cristo.
       O coração de uma criança verdadeiramente cris­tã é o bom terreno da parábola: cada semente de Jesus se transforma em trinta, sessenta ou cem bên­çãos de bondade, de fé e de auxílio ao próximo. O coração dessa criança deseja conhecer sempre mais e melhor os ensinos cristãos. E se esforça sinceramen­te para fazer a Vontade Divina: amar e perdoar, crer e ajudar, aprender e servir.
       Filhinho, aí está a Parábola do Semeador. Me­dite nela. Que você, guardando a humildade de cora­ção, se esforce para ser, se ainda não o é, o bom terreno, que recebe os grãos de luz do Divino Semea­dor e dá muitos frutos de sabedoria e bondade.

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